quarta-feira, 24 de abril de 2013
ARRAIAL DO CABO
Localizada a 140 km do Rio de Janeiro, Arraial do Cabo é uma cidade pacata, cercada por praias que encantam moradores e turistas que visitam o lugar. Dunas, restingas, lagoas e costões compõem uma das mais belas paisagens do nosso litoral e garantem a diversão mesmo nos dias de flat. Na superfície de águas cristalinas, altas ondas quebram ao longo do ano inteiro. No fundo do mar, uma imensidão azul de visibilidade paradisíaca e uma fauna marinha abundante fazem Arraial ser considerada a capital do mergulho brasileiro. A Surfar desembarcou nesse paraíso do Atlântico que recebe cada vez mais investimentos em infraestrutura, porém ao mesmo tempo mantém o clima típico das vilas de pescadores, abrigando gente humilde e hospitaleira. O aroma da maresia, o sabor do pescado e o visual do pôr do sol serão difíceis de reproduzir nessas páginas. Mas vamos tentar mostrar para vocês um pouco desse lugar querido e protegido pelos seus habitantes. E como não podia ser diferente, tudo sobre o surf nos melhores picos de Arraial!
Durante centenas de anos Arraial do Cabo foi uma colônia de pescadores. O progresso veio com a instalação de uma fábrica na cidade no ano de 1943, que atraiu trabalhadores de todas as regiões do Brasil em busca de um emprego. De lá pra cá, Arraial cresceu e ganhou uma nova dimensão, recebendo turistas do mundo inteiro nas altas temporadas. Apesar do crescimento, o “paraíso do Atlântico”, como é conhecido por seus moradores, não perdeu sua essência, que poderia ser cenário para uma música de Dorival Caymmi: “O pescador tem dois amor - Um bem na terra, um bem no mar”.
Mas se o pescador tem um bem no mar, os surfistas de Arraial têm outro. Altas ondas, com características marcantes e diferentes, quebram ao longo do ano inteiro em vários picos que se estendem ao longo das praias. Victor Ribas, um dos maiores surfistas brasileiros da história, sabe bem disso e fez escola nas ondas da cidade. Ele nasceu em Cabo Frio (cidade vizinha de Arraial, onde possui uma estátua em sua homenagem) e ao longo de toda a sua vida aproveitou as esquerdas da Praia Grande até a potente onda da Ilha do Pontal. E com a ajuda de surfistas locais, preparamos para vocês um guia sobre os principais picos da região!
PRINCIPAIS PICOS
Praia Grande - Quebra praticamente o ano inteiro, mas de maio até setembro é o melhor período, quando entram grandes ondulações de sudeste e principalmente de sul com vento nordeste. O canto esquerdo clássico é considerado uma das melhores esquerdas do Brasil. De setembro em diante rolam altas ondas na Chaminé e em Estacionamento com as mesmas ondulações e vento, sem falar das águas cristalinas e de um pôr do sol mágico.
Praia Brava – Normalmente quebram altas ondas tubulares e pesadas no verão quando fica com boa extensão de areia, pois quando está sem praia é aconselhado apenas para os mais experientes. Geralmente fica bom com ondulação de sul e sudeste com vento nordeste, o canto esquerdo e o meio são muito bons para o surf, já o canto direito é excelente com triângulos mágicos.
Massambaba (Monte alto e Figueira) - Quebra praticamente o ano inteiro, funcionando com a mesma ondulação e vento da Praia Grande.
Ilha do Pontal - Fundo de pedra, com uma esquerda poderosa e perigosa, que fica em frente à praia do Pontal. Funciona mais nos meses de vento nordeste forte, que vai de agosto até dezembro, com as ondulações de leste que predominam nesta época. Vale a pena ressaltar que é a onda preferida do ex-WT Victor Ribas.
Baixios (pico secreto) - Uma onda mágica que quebra poucas vezes no ano. Isso pode variar, já que em 2012 quebrou várias vezes. Funciona geralmente de junho em diante com ondulação grande de leste e sudeste. Só da para ir de barco.
HOSPEDAGEM
São aproximadamente 66 meios de hospedagem com preços que variam de acordo com a temporada. A média das diárias para casal está em torno de 180 reais em ótimas pousadas, com serviços de qualidade e boa localização. Porém, é possível encontrar hospedagens mais em conta em hostels/albergues em torno de 50 reais por pessoa em quartos coletivos. E se a procura for por serviços diferenciados, existem hotéis com suítes luxo, com toda comodidade e conforto: piscina, sauna e outras opções de lazer, atendendo a todo tipo de público.
ALIMENTAÇÃO
Cadastrados junto à Secretaria de Turismo, a cidade possui cerca de 20 restaurantes, porém existem pequenas pensões, quiosques nas praias, lanchonetes, pizzarias e creperias que também disponibilizam serviço de alimentos e bebidas. Os preços são bem acessíveis e a maioria tem como especialidade frutos do mar, é claro. Refeições com peixes da região, lula e camarão são sempre uma ótima pedida! É possível degustar desde o tradicional peixe com banana até pratos mais sofisticados, além de petiscos como quibe de peixe, pastelzinho de camarão, casquinha de siri e outros mais. Mas para quem não se agrada com frutos do mar, existem vários restaurantes com diversidade em carnes, massas, culinária vegetariana e oriental.
VIDA NOTURNA
Arraial do Cabo ainda guarda ares de antigo vilarejo de pescadores e possui uma vida noturna mais tranquila com barzinhos e restaurantes com música ao vivo. Durante o verão e feriados prolongados, shows em praça pública e luaus na praia costumam acontecer.
E QUANDO ESTIVER FLAT...
A Ressurgência (fenômeno raro responsável pela rica biodiversidade marinha), entre pouquíssimos lugares do mundo, acontece em Arraial do Cabo! A cidade conta com 13 operadoras de mergulho atuantes que oferecem diversos serviços (batismos, aluguel de equipamentos, cursos avançados), sendo uma ótima opção para os dias sem ondas.
Para quem curte lugares pouco explorados, Monte Alto e Figueira - distritos de Arraial do Cabo - são uma ótima opção para quem gosta de estar em contato com a natureza. É possível fazer trilhas pela restinga, se deliciar de frutos típicos e apreciar orquídeas e outras plantas da vegetação nativa, além de observar pássaros e outras espécies raras. A Lagoa Azul é uma Área de Preservação Permanente, possui água morna e salgada, e os ventos propiciam a prática de esportes como kitesurf e windsurf que atraem dezenas de turistas todos os fins de semana. Inclusive para quem desejar aprender a modalidade existem escolas especializadas.
ENTREVISTA - BRUNO SANTOS
Bruno Santos hoje é considerado um dos surfistas mais respeitados quando o assunto é “andar por dentro dos tubos”. Depois de vencer o Alfa Barrels Contest no ano passado, o niteroiense começou 2013 com o pé direito. No final de fevereiro levou o título da primeira etapa do Circuito Brasileiro em Fernando de Noronha e, de quebra, ainda estava na disputa ao prêmio do Tubo da Temporada. Prestigiando a edição de aniversário, Bruninho visitou nossa redação e nos contou sobre suas recentes conquistas, além de seus próximos planos para um ano que promete!
Como é seu dia a dia de freesurfer?
Como freesurfer meu objetivo tem sido buscar sempre as melhores imagens nas ondas. Quando tenho tempo e consigo vaga em algum campeonato diferenciado, como foi o da Surfar no ano passado, ou então a triagem da etapa do WT no Tahiti, eu ainda participo. Qualquer evento com ondas perfeitas, principalmente tubo pra esquerda, eu tento uma vaga. Esse ano em Noronha não foi diferente. Mesmo não competindo muito, assim que eu soube que o Circuito Brasileiro ia começar não pensei duas vezes e marquei minha passagem. Ainda que eu não estivesse mais competindo no WQS, essa era a época que costumava ir pra Noronha, onde estavam todos os fotógrafos, pois sempre rendia um material maneiro. Então, aproveitei para conciliar os dois: campeonato e free surf.
E o que você sentiu com a vitória em Noronha?
A vitória foi alucinante! Fui super confiante e em todos os campeonatos já entro pensando em vencer. Eu já tinha vencido uma competição grande lá, o Hang Loose Pro em 2009. Fui bem focado e sabia que a previsão era boa, com ondas grandes. Você tem que ter aquela intimidade com os tubos porque é o que sempre define lá. Também tem que contar um pouquinho com a sorte, pois estava bem difícil e em várias baterias passei raspando. Mas é o tipo de onda que eu sempre entro pra ganhar.
Agora você pretende competir no Brasileiro?
Na verdade o circuito deu uma enfraquecida em 2012, porém esse ano começou super bem com a etapa em Noronha. Qualquer um pode se inscrever e competir. É lógico que existe prioridade para os 96 primeiros, mas não é o meu foco mesmo tendo vencido a primeira etapa. Serão muitas etapas no Brasil todo e sei que em muitas seria difícil bater de frente com a galera. Com certeza, se eu não estiver viajando, não custa nada dar um gás e correr atrás um pouco. Ouvi dizer que vai ter uma etapa em Saquarema, que é um lugar que eu gosto também.
Ano passado você ganhou o Alfa Barrels Contest e este ano participou do Tubo da Temporada, sempre empenhado em vencer. De onde vem esse incentivo e o que te motiva?
No caso do Alfa Barrels, eu competi não só pelo evento, mas também para explorar um pouco mais aquela onda. Sempre vi altas fotos do Tojal, Jê, Pinguim, André Portugal... Já queria explorar o Alfa Barra com essa galera para fazer fotos maneiras. Então aproveitei que surgiu esse campeonato com um formato maneiro, diferente e que agrada mais a galera, além disso, fica mais divertido. Todo evento que tem tubo eu fico confiante, sem falar que a premiação chama a atenção também, né? Ainda mais sendo freesurfer.
Fale da sua participação no Tubo da Temporada.
A minha onda que concorreu ao Tubo da Temporada foi irada! Surfei na hora que mais rendeu e que mais foi registrada. Não foi um tubo tão profundo, porém foi uma onda quadrada, encaixada, um salão alucinante! Nesse dia estava um crowd infernal, pois foi logo depois do Pipe Masters, com todos os locais na água, e aquela onda acabou sobrando do nada. Já tinha até pego uma boa, mas aquela foi a que fez minha cabeça na temporada. Se eu não tivesse surfado ela, de repente a temporada não teria sido tão interessante. Devia ter uns 8 pés, porém quebrou bem na laje mesmo, chegou quadrada (veja o vídeo no site da Surfar no link Tubo da Temporada).
Qual a diferença do quiver que você levou para Noronha e Pipeline?
Para Noronha meu quiver é sempre o mesmo: duas 5’9, uma 5’1 e outra 51’1. Ou então três 5’9 e uma 5’11. Quando o mar sobe, eu também caio com prancha pequena. Mesmo sendo uma onda buraco e tubular, sempre tive mais facilidade com prancha pequena. Você acaba entrando um pouco mais atrasado, o drop fica mais crítico, mas em compensação fico mais à vontade para me movimentar dentro do tubo. Também tenho usado bastante quadriquilha. Vejo que é uma tendência, a galera que usava prancha maior também já vem puxando para baixo. Em Pipeline minha prancha mudou muito pouco nos últimos anos. Costumo usar uma 6’6 mais grossinha e nos maiores dias uma 6’8, o que já é suficiente. Se tiver um mar gigante, arrumo uma prancha emprestada por lá, mas meu quiver é sempre de poucas pranchas, pois não costumo viajar com muitas.
Como você vê o seu trabalho de freesurfer no Brasil nesse panorama de crise?
Na verdade essa decisão foi um acordo com o meu patrocinador, que é uma marca que já carrega uma pouco desse lifestyle. Por mais que todos os atletas tops da marca sejam campeões, participando do WT, a Rip Curl sempre teve muito lado a lado com essa parte da “busca da onda perfeita”, de viagens, da essência do surf. Então a gente viu que eu me encaixava muito mais nesse segmento, porém tem espaço pra todo mundo. Nenhum dos dois segmentos é fácil, você tem que se dedicar, pois é um trabalho. Mas essa foi a forma que encontrei de continuar nesse lifestyle de estar viajando, sempre surfando ondas perfeitas, já que sou meio viciado. Também acho que a situação mudou bastante. Alguns anos atrás ninguém enxergava um surfista que não fosse competidor. Hoje tem mudado um pouco, ninguém fica rico só no free surf, porém leva uma vida legal, sempre viajando em lugares maneiros. É uma vida bem bacana, mas ao mesmo tempo não é fácil, você tem que saber trabalhar, dar o retorno para os patrocinadores...
Quais são os seus próximos planos?
A próxima viagem que tenho programada é para o Chile. Não para Arica e sim mais para o sul, sem muito daquela logística que tem rolado ultimamente de seguir previsão de swell. A gente vai descer para explorar e surfar mesmo, curtir e conhecer o lugar, sem muitos planos. Parece que está para surgir uma competição em Mentawai só pra convidados e acho que vou fazer parte desse evento. Mas muitas trips acabam acontecendo de última hora por conta do swell. A princípio é o que sei de concreto. Fiquei amarradão com a vitória em Noronha! Vencer é muito bom, só que não mudou muito meus objetivos, pois eu já estava arrumando um pretexto de ir para lá, que é um lugar que quero sempre voltar, que está sempre bombando.
FÉRIAS DE VERÃO - LOBITOS/PERU
Onde você escolheria passar suas próximas férias? Sem dúvida, o Peru ainda é um destino muito procurado pelos brasileiros, principalmente para aqueles que estão atrás de ondas perfeitas por um custo x benefício que cabe no bolso. Pensando nisso, dois grupos de surfistas profissionais, acompanhados pelos fotógrafos Clemente Coutinho e James Thisted, foram atrás de um swell que entrou em Lobitos. A Surfar resolveu entrar na barca para saber se esse destino foi realmente a escolha certa. Acompanhe os depoimentos dos fotógrafos sobre a trip e tire suas conclusões.
Uma trip para o Peru normalmente acaba sendo a primeira dos brasileiros. E mesmo sendo países vizinhos, a viagem dura em torno de doze horas saindo do Rio ou São Paulo. Apesar de saber do potencial do lugar, só tive oportunidade de conhecer o pico depois de ter viajado bastante ao redor do mundo. Em maio do ano passado, fui até o norte do Peru para fotografar e filmar. Retornei ao Brasil encantado e já comecei a sonhar com a próxima trip. Ao monitorar o swell para Lobitos, recebi de alguns amigos nordestinos o convite para essa barca e agilizamos tudo muito rápido.
AS TAXAS DO DESEMBARQUE
Quando chegamos ao aeroporto de Lima, fui barrado na alfândega por conta dos meus equipamentos fotográficos. O agente perguntou se eu era repórter e se tinha cartão de visitas. Logo depois, me levaram para uma esteira ao lado e disseram que eu deveria ter declarado o meu equipamento. Expliquei que eu era profissional e tudo que estava comigo iria retornar para o Brasil, mas me pediram US$ 380,00 para liberar, então disse que esse era o valor que pretendia gastar durante minha estadia em Lobitos. Depois de muita conversa, aceitaram receber US$ 140,00 no cartão de crédito.
Para um país que quer aumentar o fluxo de turismo, essa é uma atitude um tanto estúpida e desrespeitosa. Ao meu lado tinha um economista com diversos livros que ele iria usar no seu trabalho e sequer foi revistado. Que diferença faz o tipo de trabalho? Entrei no site da embaixada e não existe explicação para esse tipo de atitude. Portanto, se você pretende ir fotografar ou filmar no Peru, fique esperto ou será taxado igual a mim.
ESTRUTURA DO PICO
No ano passado existiam apenas três hotéis/pousadas à beira-mar, que já estavam todos lotados, porém acabamos conseguindo vaga em um que estava em construção. Mas quando chegamos fiquei surpreso! Das três hospedagens que havia, agora tinham nove na praia, sem contar com as outras. A comida é basicamente peixe, porém no Hotel Lobitos o cardápio é bem variado a um preço um pouco mais salgado, embora a qualidade compense para quem aprecia a culinária peruana. Nos arredores também há alguns restaurantes onde, por apenas R$ 10,00, é possível comer um “PF” de peixe grelhado com arroz e batata frita.
VALE OU NÃO A PENA?
Mesmo com toda a explosão do crowd devido à qualidade das ondas, Lobitos ainda é um lugar que merece toda atenção. Com uma combinação de swell e vento, a onda começa em El Hueco, passa por Frontera e termina em Lobitos, o que deve dar uma extensão de uns trezentos metros de tubo e manobra. E se antes mal dava para surfar com 20 pessoas na água, imagine com quarenta e cinco, sendo seis peruanos em um pico onde as séries têm no máximo quatro ondas?! Então a pergunta: vale ou não a pena enfrentar doze horas de viagem e mais o crowd para surfar uma onda assim?
Em Lobitos, você vai esbarra com muitos brasileiros e de cara encontramos alguns de diversas partes do Brasil. Entre eles estavam Ian Gouveia, Lucas Silveira, Yan Sondahl e parte do time da Mormaii, que testava novos equipamentos para ondas frias e geladas. O swell, apesar de não ter durado muitos dias, foi o suficiente para se divertir e manter o rip, já que por aqui não havia muita coisa para se fazer.
A relação investimento versus qualidade das ondas faz do Peru uma das melhores trips para surfistas brasileiros. Tanto amadores quanto profissionais sabem que com um bom swell não tem opção melhor perto de casa. Agilizamos nossa ida para Lobitos e a barca foi formada pelos atletas Yuri Gonçalves e Alex Ribeiro, além de Carlos Carpinelli (departamento de criação da Mormaii), Pietro Paradeda (designer das wetsuits) e o freesurfer paulistano Fabiano Zicalzi. O objetivo principal era captar imagens em foto e vídeo com as novas wetsuits da Mormaii, como também o treino que as longas esquerdas do pico proporcionariam aos atletas profissionais para as futuras competições.
A LOGÍSTICA DA TRIP
Claro que em cima da hora não podemos contar com todos os descontos e “boiadas” que uma trip planejada com antecedência pode oferecer, mas faz com que a gente chegue junto com a ondulação. Como não tínhamos reservas, a opção foi ir de Floripa a São Paulo de ônibus, o que tornou a viagem mais longa e cansativa. Saímos de Santa Catarina numa noite e na manhã seguinte estávamos em Guarulhos para pegar o voo para Lima somente no fim do dia. Chegamos em Lima por volta das 23:00hs e o voo para o norte partiria às 5:00hs da manhã seguinte. Como o tempo era curto para gastar em hotel, o jeito foi armar um acampamento no saguão do aeroporto.
RESPEITAR E SER DA PAZ FAZ A DIFERENÇA
Já fui para Lobitos três vezes e em nenhuma delas fiquei hospedado no pico por causa da falta de estrutura e também pelo perigo de assaltos no local, porém desta vez fiquei impressionado com o crescimento que o surf trouxe para a região. Hoje existem várias opções de pousadas, hotéis e campings bem em frente ao pico, sem falar que a infraestrutura da vila melhorou bastante principalmente em relação à segurança, ruas asfaltadas, restaurantes, mercados, etc, sem que os preços tenham subido em igual proporção.
O crowd também aumentou bastante. Foi comum ver rabeadas “na cara dura”, a maioria feita por peruanos de outras partes do país, sendo que alguns mal sabiam surfar. Senso de coletividade meio distorcido para dizer o mínimo. Nessas horas, respeitar e ser da paz faz a diferença.
INVESTIMENTO COM RETORNO
O surf na área não é restrito a Lobitos e existem outras opções. Você pode ir caminhando para outros picos, como El Hueco, Molhes, Piscinas e Baterias. Normalmente a aposta certeira é Lobitos, mas elegemos os Molhes para a queda do meio do dia, pois nesta hora, com a entrada do vento, o crowd diminuía e as ondas continuavam boas para o treino e produção das imagens. Também é comum encontrar outras barcas de brasileiros. Na viagem tivemos a sorte de encontrar meu brother e colega de profissão Clemente Coutinho, que estava acompanhando uma galera de surfistas profissionais e freesurfers do nordeste.
Com turistas, fotógrafos e surfistas crowdeando os bons picos de onda em todo planeta, Lobitos continua sendo uma grande pedida para os brasileiros que querem investir numa trip com garantia de surf de qualidade. Sabendo respeitar, Lobitos oferece espaço e onda para todos!
S.O.S SÃO CONRADO
No mês de agosto, um grupo de amigos decidiu fazer uma manifestação para chamar a atenção sobre o problema do esgoto lançado in natura no mar de São Conrado. Sem obter um retorno das autoridades, os ativistas se reuniram para criar um movimento mais organizado. Então surgiu o “Salvemos São Conrado”, inspirado em uma mobilização parecida que aconteceu após uma catástrofe natural em Puerto Escondido, México. Conheça mais sobre o projeto e saiba como ajudar um patrimônio natural que é vítima do descaso.
Localizada na zona sul do Rio de Janeiro e conhecida por suas esquerdas tubulares, a praia de São Conrado sofre com um problema que existe há muito tempo. Diariamente litros e mais litros de esgoto são despejados no mar sem receber nem mesmo o tratamento primário que os orgãos responsáveis deveriam fazer. Todo tipo de resíduo, tanto líquido quanto sólido, pode ser visto até pelos olhares menos atentos de quem frequenta a região. Denúncias são feitas, porém nada acontece. E o abandono em que a praia se encontra também se estende para além do calçadão. Áreas urbanísticas entram cada vez mais em estado de precariedade, um cenário que evidencia a condição de um lugar esquecido: grades de proteção foram arrancadas por uma ressaca, assim como a rampa de acesso à areia e alguns poucos bancos de praça, que estão cada vez mais degradados.
A praia de São Conrado fica a poucos metros da maior favela da América Latina, a Rocinha, comunidade que abriga centenas de surfistas e bodyboarders de todas as idades. Diariamente eles descem o morro para encontrar lazer nas ondas, mas o que era pra ser apenas diversão também representa uma ameaça. Casos de pessoas que contraíram desde doenças de pele até hepatite são cotidianos. Um grande perigo para os frequentadores, que não são informandos dos riscos que correm ao entrar na água. Então fica uma pergunta: se a praia fosse point apenas dos moradores dos condomínios luxuosos que se estendem pela orla, será que o descaso seria o mesmo?
Segundo Fabrini Tapajós, representante do movimento ‘Salvemos São Conrado’, a verba do governo não vem sendo utilizada para o tratamento do esgoto como deveria: “Existem duas pequenas estações em São Conrado, uma de responsabilidade da Rio Águas, que fica localizada na Vila Olímpica, e outra de responsabilidade da CEDAE, que fica próxima ao Hotel Nacional. Mas a nossa praia está sempre podre. Desde 2003, quando foi feita uma obra de maquiagem pelo então prefeito Garotinho, não tivemos um dia sequer de praia própria para o banho e isso são dados da própria prefeitua.” E Fabrini vai mais além para explicar o objetivo dos ativistas: “O cano de responsabilidade da CEDAE, que leva parte do esgoto do bairro para o emissário de Ipanema, está em estado precário e estoura frequentemente, derramando milhares de litros de esgoto no costão da Niemeyer. Nosso objetivo é primeiramente resolver a questão mais grave, que é a poluição, e em seguida buscar melhorias, principalmente para o canto esquerdo da praia que é esquecido.”
Para manter o projeto e realizar ações, o “Salvemos São Conrado” está vendendo camisetas, além de receber doações de pequenas empresas dos próprios surfistas do bairro e de simpatizantes do movimento. Os ativistas pretendem agora reunir uma equipe de profissionais, como biólogos, engenheiros sanitários, advogados e ambientalistas, para auxiliarem na montagem de um dossiê com laudos técnicos e entrar com uma denúncia no Ministério Público. As pessoas também podem ajudar pressionando os órgãos competentes através do site paneladepressao.org.br, que criou uma campanha que exige resposta das autoridades. “Não podemos mais viver de promessas e ficar vivenciando esse descaso diariamente. É desumano e criminoso, e o ‘SALVEMOS SÂO CONRADO’ veio pra mudar esse panorâma que vivemos há décadas”, completa Fabrini.
Mais informações sobre o projeto no site salvemossaoconrado.org e na comunidade do Facebook ‘Salvemos São Conrado’.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
70 ANOS DE JIMI HENDRIX!
No último dia 27 de novembro, um ícone da contracultura completaria 70 anos. Aproveitei a data e preparei uma homenagem ao artista que inspira gerações. Com vocês, Jimi Hendrix!
Por Lucas Gayoso
Em meados da década de 60, Pete Townshed, líder da banda The Who, convidou Eric Clapton para uma sessão de cinema. Durante o filme, Townshed virou para Clapton e disse: “Acabo de conhecer um sujeito que vai nos deixar desempregado, cara”. Surgia Jimi Hendrix, um jovem guitarrista de Seattle, recém-chegado em Londres, capaz de tocar com a guitarra nas costas de forma como poucos conseguiam da maneira convencional. Ele trazia a base da música negra americana, do blues marginal de Robert Johnson ao Rock n’ Roll de Chuck Berry, precursor do gênero. Mas o que impressionava a todos era a melodia selvagem e ao mesmo tempo harmônica que ele tirava do instrumento, que mais parecia uma extensão do seu próprio corpo no palco. Hendrix chegou para fechar o canal da cena musical londrina, explodindo como uma bomba no quebra coco da Baía de Waimea, Hawaii. O impacto do seu som varreu o mundo.
“Fiz a mim mesmo uma espécie de promessa: não olhe para trás. Se olhar, isso o manterá na retaguarda.”- Jimi Hendrix.
Antes de ir para Europa, formar o trio “The Jimi Hendrix Experience” e se tornar conhecido como o maior guitarrista de todos os tempos, o garoto negro e pobre chamado James Marshall Hendrix serviu na brigada paraquedista do exército americano. A experiência de saltar a centenas de metros de altura não só proporcionaria alguns momentos de adrenalina na vida de Jimi, mas também definiria uma das maiores marcas do seu som inovador. Mais tarde, ele diria que o ruído do ar assobiando no paraquedas era uma das fontes de inspiração para o seu timbre “espacial” na guitarra. Hendrix conseguiu dispensa médica para não servir no Vietnã, porém o legado musical que deixou ecoou muito mais alto que os fuzis e metralhadoras da guerra. No ar, na terra ou no mar, as ondas sonoras emitidas por sua Fender Stratocaster pareciam mesmo ter vindo de outro planeta cruzando oceanos. A trilha perfeita para uma sessão de surf, entre a calmaria e o sufoco da arrebentação, inspirando gerações até hoje.
O som de uma época
No final dos anos 60, jovens de todo o mundo protestavam contra a guerra, pregavam a desobediência civil e propunham um mundo construído com paz e amor. Eram tempos de libertação e transgressão. Jimi Hendrix, o ídolo máximo dessa geração, movia multidões por onde passava. Enquanto isso, o Brasil vivia sob ditadura militar e o temor da vigilância e repressão era constante, mas nem as forças do exército foram capazes de conter os instintos libertários de uma galera que desejava viver um estilo de vida menos quadrado que o de seus pais engravatados.
Um dos pontos de encontro dessa juventude foi o Píer de Ipanema, construído em 1968. Considerado um território livre em plena ditadura, o espaço foi palco de uma revolução de costumes, onde surfistas, gatinhas, artistas e doidões se misturavam sob o lema de “É proibido proibir”. Foi nessa época que o legend brasileiro Otávio Pacheco e figuras como Evandro Mesquita, Petit (o famoso menino do Rio), Lui Roche (músico guitarrista), Maraca (lenda do surf brasileiro) e Zeca Proença (compositor da Blitz) escutaram os primeiros acordes de uma música que parecia ter sido feita sob medida para rasgar com radicalidade as ondas que quebravam do Arpex ao histórico Píer. “No final dos anos 60, o som lisérgico e distorcido da sua guitarra já era degustado pelos ouvidos ávidos de Rock n’Roll da nossa galera de vanguarda no Arpoador. Depois essa turma migrou para o Píer e houve total identificação com o som libertário numa época de repressão e de valores tradicionais de uma sociedade ainda tão caretona. Nós já estávamos de saco cheio de tudo aquilo. Jimi representava nosso protesto e a liberdade total que não podíamos ter. Ele era um dos meus grandes ídolos”, lembra Otávio.
A informação não atravessava o mundo de forma tão rápida como hoje, porém sempre tinha aquele camarada que trazia as últimas novidades em LPs de vinil para a galera escutar. Não só a música, mas a arte colorida e psicodélica nas capas dos discos, assim como fotos dos artistas com seus cabelos desalinhados e postura rebelde em páginas de revistas e jornais, influenciava no jeito da rapaziada se vestir, comportar e, como não podia ser diferente, surfar. “O Rock n’ Roll começou a grande revolução cultural do século XX, quando Chuck Berry tocou ‘Johnny be Good’ com sua guitarra e Elvis divulgou o rock pelo mundo quebrando os tabus. Já Jimi Hendrix ‘derreteu’ as estruturas caretas estabelecidas nos fazendo viver todas as experiências místicas e transcendentais ainda desconhecidas pelos jovens na época. Sempre me identifiquei com o seu som cru e selvagem que me inspirava antes de ir pegar onda, principalmente nos dias grandes”, completa Otávio.
Hendrix para sempre
Embora possa parecer contraditório, fora dos palcos Jimi era uma pessoa de personalidade tímida e pacata. Desde sua infância, marcada pelo abandono dos pais e dificuldades financeiras em Seattle, ele trazia em seu olhar o traço humilde de um jovem autodidata que cresceu sem o apoio de muitos ombros amigos, mas com a onipresente força que encontrava no braço de sua guitarra. Com crescente sucesso e fama, Hendrix se via cada vez mais distante de sua essência. Dívidas com empresários interesseiros, inúmeros processos judiciais, agendas lotadas a cumprir, problemas com drogas e diversas outras dores de cabeça começaram a impedir que o guitarrista tivesse inspiração para criar o que mais gostava de fazer: música. Jimi Hendrix se tornava um artista profundamente angustiado e encontrava nas drogas sua fuga.
Depois de conquistar uma geração que lutava por ideais libertários, no dia 18 de setembro de 1970 uma manchete estampava os principais jornais do mundo: “Morre o maior guitarrista de todos os tempos”. Hendrix foi encontrado sem vida no quarto de sua namorada Monika Dannemann, uma pintora alemã. A versão oficial consta como motivo do óbito asfixia com o próprio vômito, provocado por uma ingestão excessiva de álcool. Diversas teorias para o motivo de sua morte até hoje são levantas, como assassinato e até suicídio, mas nada foi provado.
Muita coisa mudou desde então. O píer foi demolido, o regime de ditadura militar foi derrubado, a indústria do surf se transformou num mercado milionário e muitos dos jovens que viveram com intensidade os 60/70 não voltaram da “viagem”. Mas a música que Jimi Hendrix deixou nunca morrerá, passando em suas letras e melodias o espírito da liberdade, de viver intensamente e ir fundo seguindo sua própria natureza. Hendrix dropou as ondas da vida sem medo, botou pra dentro na maior da série e saiu do tubo para entrar para história.
“Quando o poder do amor se sobrepuser ao amor pelo poder, o mundo conhecerá a paz.” – Jimi Hendrix
Um encontro com Anderson Pikachu, o mascotinho do Arpoador que acaba de retornar da viagem dos seus sonhos.
Por Lucas Gayoso
Posto 8 da praia de Ipanema. Sento no banco quente do calçadão enquanto espero a hora marcada para o encontro. O sol castiga dando breves tréguas entre as poucas nuvens do céu azul de um típico dia de verão carioca. Observo o mar sem ondas, enquanto na areia vendedores começam a levantar suas barracas entre os esportistas matinais. Não muito distante, pássaros compõem o famoso cenário sobrevoando a pedra do Arpoador, lugar preferido de Anderson da Silva, mais conhecido como Pikachu, um típico moleque de 13 anos criado na comunidade do Cantagalo, zona sul do Rio de Janeiro.
Após receber uma ligação da avó de Anderson, entro na Rua Teixeira de Melo e sigo pela calçada arborizada até o elevador que dá acesso à comunidade. De longe, avisto um garoto vestido de camisa vermelha e vou ao seu encontro. Pikachu poderia facilmente ser confundido com qualquer menino bom de bola nos campos de terra batida dos morros cariocas. Magrinho e com pinta de driblador, ele diz que até se arrisca nas peladas dos amigos, mas está na cara que sua praia é outra. Por influência de um tio surfista, Anderson começou a surfar aos quatro anos e cresceu descendo as ladeiras do Cantagalo e as ondas do Arpoador. Não demorou para virar o mascote da praia
Tímido e com cara de sono, Pikachu não é de muitas palavras. Puxo assunto sobre o último fim de semana de ondas para quebrar o gelo, enquanto subíamos pelas vielas do morro até um bom lugar para fotografar. No caminho, ouço uma menina gritando: “Ih, a lá, Pikachu virou guia!”. Mas ele não dá papo e depois de subir uma longa escadaria chegamos ao nosso destino. Sobre a origem do apelido a resposta é no mínimo cômica. Seu tio dizia que ele tinha uma cabeça enorme quando criança, como o personagem do desenho animado Pokémon. “Eu nem gosto muito, mas eles ficam me chamando, aí eu olho pra trás e converso com eles”, dispara com expressão indiferente.
Sentamos na escadinha de uma casa humilde, como todas as outras ao nosso redor. É possível observar os prédios da cidade e a imensidão oceânica de Ipanema – vista mais privilegiada do que qualquer varanda de luxo do bairro nobre da zona sul. Paredes de tijolos grafitadas com personagens e cenas cotidianas da favela oferecem identidade e poesia ao local, que parecia ambientar a atmosfera melancólica de um samba antigo de Cartola. Logo no início da conversa, Pikachu parece ansioso em contar sobre sua experiência havaiana.
Todo mundo se conhece no morro. Não demora e somos rodeados por amigos curiosos com a minha presença. Eles participam entusiasmados do papo, listando as manobras radicais e vitórias em campeonatos do amigo surfista. Pikachu é bicampeão do circuito carioca Sub-14 e já é considerado um camisa 10 entre as revelações do Arpoador. Mas apesar de ter trocado as chuteiras e a bola de futebol por parafina e prancha, Anderson é uma criança comum e gosta de se divertir da mesma maneira que qualquer garoto da comunidade quando não está surfando. Soltar pipa, jogar futebol, correr solto pela areia da praia brincando com os seus amigos, pular da Pedra do Arpoador e ouvir música fazem parte do seu cotidiano.
Um vento forte sopra carregando algumas poucas folhas secas no chão. Pipas coloridas tomam conta da paisagem, acompanhadas pelo olhar atento do menino. Hoje não vai dar onda, mas Pikachu certamente vai encontrar outro jeito de se divertir. Segurando a linha da pipa, ele flutua e vai rasgando o céu, enquanto nuvens se movimentam como a espuma das ondas. As mesmas que sobrevoou para realizar um sonho que parecia impossível.
“Sonhar é acordar-se pra dentro”. – Mário Quintana
O HOMEM DA CASA
Filho único, Pikachu mora com a sua avó, mãe, tia, duas primas e um sobrinho recém-nascido numa casa no alto do morro. Ele já pensa em se tornar um surfista profissional bem sucedido e poder dar uma vida melhor para a sua família, mas para isso sabe que ainda tem muita luta pela frente. Anderson conta o apoio do Favela Surf Clube, projeto social criado por surfistas do morro do Cantagalo e Pavão/Pavãozinho para ajudar crianças da comunidade a seguirem um caminho saudável dentro do esporte, longe das drogas e presente na escola. Entre outras coisas, o projeto oferece treinamento, suporte para viagens, pranchas e acessórios para o pequeno surfista, com a condição de que ele esteja indo bem nos estudos. Bom aluno em português e matemática, Pikachu tira a lição de letra e não mata aula nem pra surfar.
“A escola é importante porque é um lugar bom pra mim. Agora passei para a quinta série e ganhei uma prancha nova. Fiquei muito feliz!”, completa.
Graças ao seu carisma, o bom desempenho tanto dentro d’água quanto na sala de aula e a ajuda do surfista profissional Simão Romão (padrinho do Favela Surf Clube e referência para os jovens surfistas da comunidade), Pikachu realizou um sonho. No ano passado, Simão começou a campanha para arrecadar dinheiro para cobrir os custos da viagem para o Hawaii, que pretendia levar, além de Anderson, os surfistas Nem (21) e Mancini (14), que ficou fora da trip por conta de indisciplina na escola. Apesar de a campanha ter sido bem veiculada na internet, a quantia não foi suficiente e Simão recorreu as suas próprias economias para bancar a viagem. Sobre o inicio da aventura, Pikachu comenta: “Não fiquei com medo de avião, só deu um friozinho na barriga, depois que subiu fiquei tranquilinho, aí deitei e dormi. Chegamos em Dallas e depois pegamos outro avião até o Hawaii. Nem acreditei onde eu estava.”
Anderson é interrompido por um de seus colegas, que pergunta curioso sobre como é voar de avião. Mas ele parece mais a fim de falar sobre sua experiência em picos como Pipeline, Backdoor, Rocky Point e Haleiwa. “No dia que eu caí em Pipeline tinha seis pés para Backdoor e 1 metro para Pipe. Fiquei lá porque é esquerda e abria, a onda ia até a areia e eu ia manobrando até o final”, comenta empolgado, como se tivesse descrevendo os dribles antes de marcar um golaço num estádio lotado de futebol.
O ESCAPE PARA UMA VIDA DIFERENTE
Entre uma session e outra, Pikachu aproveitou para conhecer seus ídolos do surf, como Eddie Rothman (o famoso “xerife”), Gabriel Medina, Bruce Irons, Ricardo dos Santos, Mick Fanning e outros grandes nomes. Também participou de uma série para o Canal Off, que registrou um diário da trip com imagens do filmmaker Gustavo Marcolini. Mas como não poderia ser diferente, perrengues também fazem parte do aprendizado. Anderson me conta tomou um dos piores caldos da sua vida, despencando parede do tubo de uma onda grande em Pipeline, que o fez girar várias vezes debaixo d’água e em seguida tomar outra onda na cabeça, até ser levado para a areia. No entanto, o moleque tem peito e diz estar pronto para a próxima.
Pikachu olha pra mim de um jeito diferente. Ele passa alguns minutos falando sobre as melhores ondas de sua vida, a beleza da paisagem, os atrativos turísticos de Waikiki e até das roupas novas que comprou no shopping. Sinto na sua expressão que esses momentos narrados de forma tão simples significaram uma enorme expansão de perspectivas para o menino que, mais do que nunca, possui o olhar cheio de liberdade e confiança de que com a prancha no pé pode chegar onde quiser, superando as dificuldades de uma realidade difícil. Ele me conta que já vê amigos envolvidos com drogas e companhias erradas, mas garante que o surf é o seu escape para uma vida diferente, planejando um dia conhecer lugares como Austrália, Tahiti e Indonésia. “Era o meu sonho ter ido pro Hawaii, queria ver se as ondas eram daquele tamanho mesmo. Obrigado Simão por essa importância que você me deu!”, diz.
Uma linha de pipa é cortada e vai descendo no céu. Pikachu interrompe nossa conversa lembrando que está na hora da escola, enquanto eu olho o relógio e me dou conta que preciso voltar para a redação. Até a próxima, moleque!
UM SEGREDO NO MAR PERNAMBUCANO
A cerca de 400 metros da costa, bancadas de corais rasos e afiados proporcionam ondas de nível internacional no litoral de Pernambuco. São lajes que oferecem tubos perfeitos e nunca antes publicados em uma revista. Conheça através das lentes do fotógrafo Clemente Coutinho um pedaço do nordeste desfrutado por poucos.
Por Lucas Gayoso
ALÉM DOS CARTÕES-POSTAIS
Não é por acaso que Pernambuco é um destino turístico tãoprocurado. Marcado pela diversidade, o estado tem uma das culturas mais vivas do país, construída a partir da contribuição de índios, portugueses, holandeses, judeus, africanos, entre outros. É celeiro de poetas, artistas plásticos e músicos, personagens de um carnaval conhecido no mundo inteiro. Mas não é sobre o maracatu, o frevo ou o forró que nós vamos falar. Distante dos grandes centros urbanos e separado por estradas inóspitas, Pernambuco esconde um segredo abaixo do nível do mar: bancadas de corais com ondas perfeitas, tubulares e perigosas.
OS PIONEIROS
Ainda na década de 70, Piet Snel, um surfista holandês residente em Recife, viu ondas quebrarem a mais de quinhentos metros da praia. Não titubeou e foi conferir de perto. Ali, Piet e seus amigos surfaram sozinhos durante anos na primeira bancada descoberta em Pernambuco, batizada como “Abreus”. Já nos anos 80, o pico foi frequentado por grandes nomes do surf brasileiro, como Carlos Burle, Eraldo Gueiros, Claudio Marroquim e Fabio Quencas. Mas em 1992 aconteceu o primeiro ataque do tubarão e logo o local foi descartado pelo eminente risco de acidentes. Em dias de swell, esquerdas longas e tubulares podiam ser vistas quebrando sozinhas.
Hoje, vinte anos após o ataque, uma nova safra de aventureiros começa a aparecer ao sul do estado, justamente onde há a maior concentração de reefs. Essas bancadas fazem com que os surfistas sejam bons em qualquer condição de tubo. São ondas que quebram distantes da praia e em profundidade muito rasa. Qualquer vacilo, pode custar caro! Sem falar no localismo, pneus furados e vidros de carro pichados que são uma ameaça constante. Certa vez, um jornalista montou sua câmera sobre as pedras num desses lugares e em pouco tempo foi expulso. O caso foi parar na delegacia de polícia. A hostilidade dos locais continua e talvez por isso as ondas sejam tão cobiçadas.
A MISSÃO
Convocado para registrar o potencial das lajes pernambucanas, o fotógrafo Clemente Coutinho não pensou duas vezes em aceitar o nosso convite. “Há alguns anos eu vinha querendo mostrar o potencial dessas lajes numa revista. Depois do convite, comecei a negociar com os locais para poder fotografar. Não foi fácil, nem todos concordaram. Revelar os nomes dos picos, então, nem pensar! Com a rapidez da informação hoje em dia, seria triste não poder mais surfar na companhia de três a quatro amigos num belo terral matinal em um dia de inverno.”
Mas convencer os surfistas locais era apenas a primeira parte da missão. Clemente Coutinho precisou acertar uma série de combinações para pegar um dia perfeito e registrar as fotos. “Além dos locais, as bancadas que escolhi fotografar são temperamentais. Acordar às 3h50 da manhã para monitorar o vento, já que qualquer brisa pode colocar tudo a perder, não é uma tarefa muito fácil. Logo na primeira investida, quando as previsões não eram das melhores, foi que demos sorte. Era o dia que antecedia um grande swell, uma sexta-feira. Durante alguns minutos analisamos as condições até que uma bela esquerda explodiu na bancada. Paulo Moura saiu correndo para água e eu fui no jet ski com o Inaldo Vieira, que estava contundido e não queria deixar de fazer um ‘surf mental’. Ondas que você certamente gastaria em média US$ 5.000 para surfá-las ao redor do mundo, quebravam bem ali na nossa frente, sem crowd e, o melhor, de graça!”
UM MAR DE OUTONO E INVERNO
O litoral pernambucano nem sempre recebe grandes ondulações e geralmente o vento maral predomina, atrapalhando a formação das ondas. A maior dificuldade é unir os fatores climáticos ideais como swell de leste/sudeste com mais de dois metros e vento terral, que ocor
Alguns outros dias quebraram sem tanto volume neste inverno, mas foi o suficiente para mostrar o potencial do lugar nas páginas da Surfar. Apesar da inconstância e dos riscos, todos os surfistas locais presentes na matéria continuam sonhando com o dia em que voltarão aos recifes, contrariando previsões e surfando em ondas de nível internacional. Os corais sempre estarão lá escondidos. Vivos, esperando mais um swell.
terça-feira, 12 de março de 2013
Quem sou eu
Sou Lucas Neves, estudante do sexto período.
Escolhi o tema jornalismo literário por ser a minha área de interesse dentro da profissão. Procuro explorar temas relacionados ao novo jornalismo e jornalismo gonzo, influenciado por autores como Truman Capote, Ernest Hemingway e Hunter S. Thompson, entre outros.
Escolhi o tema jornalismo literário por ser a minha área de interesse dentro da profissão. Procuro explorar temas relacionados ao novo jornalismo e jornalismo gonzo, influenciado por autores como Truman Capote, Ernest Hemingway e Hunter S. Thompson, entre outros.
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