A cerca de 400 metros da costa, bancadas de corais rasos e afiados proporcionam ondas de nível internacional no litoral de Pernambuco. São lajes que oferecem tubos perfeitos e nunca antes publicados em uma revista. Conheça através das lentes do fotógrafo Clemente Coutinho um pedaço do nordeste desfrutado por poucos.
Por Lucas Gayoso
ALÉM DOS CARTÕES-POSTAIS
Não é por acaso que Pernambuco é um destino turístico tãoprocurado. Marcado pela diversidade, o estado tem uma das culturas mais vivas do país, construída a partir da contribuição de índios, portugueses, holandeses, judeus, africanos, entre outros. É celeiro de poetas, artistas plásticos e músicos, personagens de um carnaval conhecido no mundo inteiro. Mas não é sobre o maracatu, o frevo ou o forró que nós vamos falar. Distante dos grandes centros urbanos e separado por estradas inóspitas, Pernambuco esconde um segredo abaixo do nível do mar: bancadas de corais com ondas perfeitas, tubulares e perigosas.
OS PIONEIROS
Ainda na década de 70, Piet Snel, um surfista holandês residente em Recife, viu ondas quebrarem a mais de quinhentos metros da praia. Não titubeou e foi conferir de perto. Ali, Piet e seus amigos surfaram sozinhos durante anos na primeira bancada descoberta em Pernambuco, batizada como “Abreus”. Já nos anos 80, o pico foi frequentado por grandes nomes do surf brasileiro, como Carlos Burle, Eraldo Gueiros, Claudio Marroquim e Fabio Quencas. Mas em 1992 aconteceu o primeiro ataque do tubarão e logo o local foi descartado pelo eminente risco de acidentes. Em dias de swell, esquerdas longas e tubulares podiam ser vistas quebrando sozinhas.
Hoje, vinte anos após o ataque, uma nova safra de aventureiros começa a aparecer ao sul do estado, justamente onde há a maior concentração de reefs. Essas bancadas fazem com que os surfistas sejam bons em qualquer condição de tubo. São ondas que quebram distantes da praia e em profundidade muito rasa. Qualquer vacilo, pode custar caro! Sem falar no localismo, pneus furados e vidros de carro pichados que são uma ameaça constante. Certa vez, um jornalista montou sua câmera sobre as pedras num desses lugares e em pouco tempo foi expulso. O caso foi parar na delegacia de polícia. A hostilidade dos locais continua e talvez por isso as ondas sejam tão cobiçadas.
A MISSÃO
Convocado para registrar o potencial das lajes pernambucanas, o fotógrafo Clemente Coutinho não pensou duas vezes em aceitar o nosso convite. “Há alguns anos eu vinha querendo mostrar o potencial dessas lajes numa revista. Depois do convite, comecei a negociar com os locais para poder fotografar. Não foi fácil, nem todos concordaram. Revelar os nomes dos picos, então, nem pensar! Com a rapidez da informação hoje em dia, seria triste não poder mais surfar na companhia de três a quatro amigos num belo terral matinal em um dia de inverno.”
Mas convencer os surfistas locais era apenas a primeira parte da missão. Clemente Coutinho precisou acertar uma série de combinações para pegar um dia perfeito e registrar as fotos. “Além dos locais, as bancadas que escolhi fotografar são temperamentais. Acordar às 3h50 da manhã para monitorar o vento, já que qualquer brisa pode colocar tudo a perder, não é uma tarefa muito fácil. Logo na primeira investida, quando as previsões não eram das melhores, foi que demos sorte. Era o dia que antecedia um grande swell, uma sexta-feira. Durante alguns minutos analisamos as condições até que uma bela esquerda explodiu na bancada. Paulo Moura saiu correndo para água e eu fui no jet ski com o Inaldo Vieira, que estava contundido e não queria deixar de fazer um ‘surf mental’. Ondas que você certamente gastaria em média US$ 5.000 para surfá-las ao redor do mundo, quebravam bem ali na nossa frente, sem crowd e, o melhor, de graça!”
UM MAR DE OUTONO E INVERNO
O litoral pernambucano nem sempre recebe grandes ondulações e geralmente o vento maral predomina, atrapalhando a formação das ondas. A maior dificuldade é unir os fatores climáticos ideais como swell de leste/sudeste com mais de dois metros e vento terral, que ocor
Alguns outros dias quebraram sem tanto volume neste inverno, mas foi o suficiente para mostrar o potencial do lugar nas páginas da Surfar. Apesar da inconstância e dos riscos, todos os surfistas locais presentes na matéria continuam sonhando com o dia em que voltarão aos recifes, contrariando previsões e surfando em ondas de nível internacional. Os corais sempre estarão lá escondidos. Vivos, esperando mais um swell.
Bacana Lucas!!!
ResponderExcluirA MISSÃO!
ResponderExcluirFiquei com vontade de visitar Pernambuco!! Só não sei se conseguiria surfar nessas ondas hahahaha
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