quinta-feira, 18 de abril de 2013
70 ANOS DE JIMI HENDRIX!
No último dia 27 de novembro, um ícone da contracultura completaria 70 anos. Aproveitei a data e preparei uma homenagem ao artista que inspira gerações. Com vocês, Jimi Hendrix!
Por Lucas Gayoso
Em meados da década de 60, Pete Townshed, líder da banda The Who, convidou Eric Clapton para uma sessão de cinema. Durante o filme, Townshed virou para Clapton e disse: “Acabo de conhecer um sujeito que vai nos deixar desempregado, cara”. Surgia Jimi Hendrix, um jovem guitarrista de Seattle, recém-chegado em Londres, capaz de tocar com a guitarra nas costas de forma como poucos conseguiam da maneira convencional. Ele trazia a base da música negra americana, do blues marginal de Robert Johnson ao Rock n’ Roll de Chuck Berry, precursor do gênero. Mas o que impressionava a todos era a melodia selvagem e ao mesmo tempo harmônica que ele tirava do instrumento, que mais parecia uma extensão do seu próprio corpo no palco. Hendrix chegou para fechar o canal da cena musical londrina, explodindo como uma bomba no quebra coco da Baía de Waimea, Hawaii. O impacto do seu som varreu o mundo.
“Fiz a mim mesmo uma espécie de promessa: não olhe para trás. Se olhar, isso o manterá na retaguarda.”- Jimi Hendrix.
Antes de ir para Europa, formar o trio “The Jimi Hendrix Experience” e se tornar conhecido como o maior guitarrista de todos os tempos, o garoto negro e pobre chamado James Marshall Hendrix serviu na brigada paraquedista do exército americano. A experiência de saltar a centenas de metros de altura não só proporcionaria alguns momentos de adrenalina na vida de Jimi, mas também definiria uma das maiores marcas do seu som inovador. Mais tarde, ele diria que o ruído do ar assobiando no paraquedas era uma das fontes de inspiração para o seu timbre “espacial” na guitarra. Hendrix conseguiu dispensa médica para não servir no Vietnã, porém o legado musical que deixou ecoou muito mais alto que os fuzis e metralhadoras da guerra. No ar, na terra ou no mar, as ondas sonoras emitidas por sua Fender Stratocaster pareciam mesmo ter vindo de outro planeta cruzando oceanos. A trilha perfeita para uma sessão de surf, entre a calmaria e o sufoco da arrebentação, inspirando gerações até hoje.
O som de uma época
No final dos anos 60, jovens de todo o mundo protestavam contra a guerra, pregavam a desobediência civil e propunham um mundo construído com paz e amor. Eram tempos de libertação e transgressão. Jimi Hendrix, o ídolo máximo dessa geração, movia multidões por onde passava. Enquanto isso, o Brasil vivia sob ditadura militar e o temor da vigilância e repressão era constante, mas nem as forças do exército foram capazes de conter os instintos libertários de uma galera que desejava viver um estilo de vida menos quadrado que o de seus pais engravatados.
Um dos pontos de encontro dessa juventude foi o Píer de Ipanema, construído em 1968. Considerado um território livre em plena ditadura, o espaço foi palco de uma revolução de costumes, onde surfistas, gatinhas, artistas e doidões se misturavam sob o lema de “É proibido proibir”. Foi nessa época que o legend brasileiro Otávio Pacheco e figuras como Evandro Mesquita, Petit (o famoso menino do Rio), Lui Roche (músico guitarrista), Maraca (lenda do surf brasileiro) e Zeca Proença (compositor da Blitz) escutaram os primeiros acordes de uma música que parecia ter sido feita sob medida para rasgar com radicalidade as ondas que quebravam do Arpex ao histórico Píer. “No final dos anos 60, o som lisérgico e distorcido da sua guitarra já era degustado pelos ouvidos ávidos de Rock n’Roll da nossa galera de vanguarda no Arpoador. Depois essa turma migrou para o Píer e houve total identificação com o som libertário numa época de repressão e de valores tradicionais de uma sociedade ainda tão caretona. Nós já estávamos de saco cheio de tudo aquilo. Jimi representava nosso protesto e a liberdade total que não podíamos ter. Ele era um dos meus grandes ídolos”, lembra Otávio.
A informação não atravessava o mundo de forma tão rápida como hoje, porém sempre tinha aquele camarada que trazia as últimas novidades em LPs de vinil para a galera escutar. Não só a música, mas a arte colorida e psicodélica nas capas dos discos, assim como fotos dos artistas com seus cabelos desalinhados e postura rebelde em páginas de revistas e jornais, influenciava no jeito da rapaziada se vestir, comportar e, como não podia ser diferente, surfar. “O Rock n’ Roll começou a grande revolução cultural do século XX, quando Chuck Berry tocou ‘Johnny be Good’ com sua guitarra e Elvis divulgou o rock pelo mundo quebrando os tabus. Já Jimi Hendrix ‘derreteu’ as estruturas caretas estabelecidas nos fazendo viver todas as experiências místicas e transcendentais ainda desconhecidas pelos jovens na época. Sempre me identifiquei com o seu som cru e selvagem que me inspirava antes de ir pegar onda, principalmente nos dias grandes”, completa Otávio.
Hendrix para sempre
Embora possa parecer contraditório, fora dos palcos Jimi era uma pessoa de personalidade tímida e pacata. Desde sua infância, marcada pelo abandono dos pais e dificuldades financeiras em Seattle, ele trazia em seu olhar o traço humilde de um jovem autodidata que cresceu sem o apoio de muitos ombros amigos, mas com a onipresente força que encontrava no braço de sua guitarra. Com crescente sucesso e fama, Hendrix se via cada vez mais distante de sua essência. Dívidas com empresários interesseiros, inúmeros processos judiciais, agendas lotadas a cumprir, problemas com drogas e diversas outras dores de cabeça começaram a impedir que o guitarrista tivesse inspiração para criar o que mais gostava de fazer: música. Jimi Hendrix se tornava um artista profundamente angustiado e encontrava nas drogas sua fuga.
Depois de conquistar uma geração que lutava por ideais libertários, no dia 18 de setembro de 1970 uma manchete estampava os principais jornais do mundo: “Morre o maior guitarrista de todos os tempos”. Hendrix foi encontrado sem vida no quarto de sua namorada Monika Dannemann, uma pintora alemã. A versão oficial consta como motivo do óbito asfixia com o próprio vômito, provocado por uma ingestão excessiva de álcool. Diversas teorias para o motivo de sua morte até hoje são levantas, como assassinato e até suicídio, mas nada foi provado.
Muita coisa mudou desde então. O píer foi demolido, o regime de ditadura militar foi derrubado, a indústria do surf se transformou num mercado milionário e muitos dos jovens que viveram com intensidade os 60/70 não voltaram da “viagem”. Mas a música que Jimi Hendrix deixou nunca morrerá, passando em suas letras e melodias o espírito da liberdade, de viver intensamente e ir fundo seguindo sua própria natureza. Hendrix dropou as ondas da vida sem medo, botou pra dentro na maior da série e saiu do tubo para entrar para história.
“Quando o poder do amor se sobrepuser ao amor pelo poder, o mundo conhecerá a paz.” – Jimi Hendrix
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Amo Jimi Hendrix!
ResponderExcluirO Hendrix é foda... um ícone da música mundial!
ResponderExcluirParabéns, Lucas! Muito legal o blog!
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